A polícia egípcia reprimiu violentamente, na quarta-feira (14), os acampamentos montados em duas praças do Cairo, a capital do Egito, por apoiadores do presidente Mohammed Mursi, deposto por um golpe de Estado em 3 de julho último. De acordo com Murat Ali, porta-voz do Partido da Liberdade e da Justiça, ao qual Mursi pertencia, cerca de mil manifestantes foram mortos e dez mil feridos. No entanto, o Ministério da Saúde confirma que 525 pessoas morreram e outras 3.717 ficaram feridas.
Há notícias de confrontos em outras partes do Egito. Em Suez, os apoiadores do presidente deposto reuniram-se diante do hospital Hamza e queimaram pneus na avenida Nasser, bloqueando o acesso a ela. Os choques com a polícia deixaram um morto e trinta feridos. O serviço de trens foi interrompido no país.
O governo declarou estado de emergência e toque de recolher entre 19h e 6h por trinta dias a partir desta quinta-feira, 15 de agosto. A ONU e vários líderes internacionais condenaram o ataque. A Anistia Internacional denunciou que a promessa de utilização de métodos letais só em último caso foi quebrada pelo governo egípcio.
A polícia acabou com um dos acampamentos pró-Mursi, na praça Nahda, e apertou o cerco em outro, na praça Rabaa al-Adawiya, onde atacou um hospital de campanha, impedindo o tratamento de feridos e tentando “atrapalhar a contagem do número de mortos”, segundo o porta-voz Ali. Mohamed al-Beltagi, líder da Irmandade Muçulmana, acusou o general Abdel Fattah al-Sisi, chefe das Forças Armadas, de “levar o Egito à guerra civil”.
Protestos fomentados pelos EUA?
As manifestações no Egito, iniciadas em 2011, nunca cessaram, mas ganharam força em 30 de junho último, primeiro aniversário do governo Mursi. Dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas exigir a renúncia do então presidente, acusado de “islamizar” a administração do Estado e de ter sido eleito por uma minoria (na verdade, manobras fizeram com que ele ganhasse as eleições com o voto de apenas 26% do eleitorado), além de promulgar uma Constituição ilegítima, aprovada por somente 32% dos eleitores e com forte viés religioso, violando os direitos dos não islâmicos e impedindo o estabelecimento do Estado laico. A crise financeira e a manutenção dos acordos com Israel foram outros motivos do descontentamento popular.
Três dias depois as Forças Armadas, lideradas por Al-Sissi, entraram em cena, depondo Mursi, afastando do poder os membros da Irmandade Muçulmana e nomeando um governo de transição, até que sejam convocadas novas eleições. Os defensores do ex-presidente, embora minoritários, decidiram também ir às ruas, em protesto contra a deposição. Choques e repressão a esses manifestantes, com mortos e feridos, têm sido comuns desde o início de julho, mas nenhum foi tão violento como o desta quarta-feira, um verdadeiro banho de sangue num país estratégico para as forças em confronto não apenas local, mas mundial – exatamente como acontece na Síria.
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