sábado, 3 de dezembro de 2011

Funcionária de ex-diretor da CIA é redatora do relatório anti-Síria

Karen AbuZayd, da equipe que escreveu o ‘informe’ é do Conselho Diretor do Middle East Policy Council, cujo presidente foi diretor da CIA para o Oriente Médio

Escrito por: Nathaniel Braia/Hora do Povo


Para escrever a peça de demonização do governo sírio, intitulada “Informe da Comissão internacional de inquérito sobre a República Árabe Síria” – sob os auspícios do Conselho de Direitos Humanos da ONU -, Paulo Sérgio Pinheiro não foi deixado sozinho. Para lhe ajudar designaram uma apoiadora de escol: a norte-americana Karen Koning AbuZayd, que é a principal integrante do Conselho Diretor do instituto de formulação de políticas para os Estados Unidos no Oriente Médio, o Middle East Policy Council.

Quem preside este desinteressado "instituto" é Frank Anderson, que trabalhou durante 26 anos na CIA e ocupou cargo de diretor da agência de espionagem para o Oriente Médio e o Sul Ásia.

Já o presidente emérito da mesma entidade é Chas Freeman, ex-subsecretário de Defesa dos EUA e embaixador dos EUA na Arábia Saudita de 1989 a 1992, ou seja, foi quem representou as relações dos EUA diante da monarquia árabe durante a Operação Tempestade no Deserto (para quem não se lembra, este foi o nome pomposo dado à invasão do Iraque em 1991, cujo ataque partiu exatamente da base militar dos EUA na... Arábia Saudita).

Entre os quadros do Conselho Diretor da mesma entidade, figura ainda Martha Kessler cuja atividade profissional é... consultora da CIA.

A missão do Middle East Policy Council, assumido pela própria organização, não deixa margem a dúvidas: trata-se de "...contribuir para o entendimento dos Estados Unidos das questões políticas, econômicas e culturais que afetam os interesses dos EUA no Oriente Médio".

Também integra a equipe de elaboradores do folheto conspiratório contra a Síria uma professora: Yakin Erturk. Ela leciona sobre questões do Oriente Médio na Universidade de Ankara, Turquia.

Não é, no mínimo, uma clara provocação colocar na comissão que vai investigar a Síria, sob a tensão que o país está vivendo, uma pessoa ligada à CIA e, além disso, uma professora que atua exatamente no país que está neste momento abrigando os integrantes do chamado Exército Livre da Síria, mais precisamente na fronteira entre a Turquia e a Síria (com os chefes desse grupo paramilitar solicitando "uma zona de exclusão similar à que se fez na Líbia") ?

Redator de informe foi contra desalojar tráfico dos morros

O presidente da comissão "independente" do inquérito sobre a Síria, o brasileiro Pinheiro, também é talhado para a função. Foi escolhido a dedo, para assim tentar atrair o Brasil para um posicionamento diferente do assumido pelo conjunto dos BRICS, que é de rejeição da intervenção estrangeira na Síria. E é bom ficarmos alerta, por que Tovar Nunes, do Itamaraty, apressou-se a elogiar a "lisura" de Pinheiro. Mas qual é o perfil desse diplomata?

Pinheiro entre outras peripécias serviu no gabinete do governo filo-americano de Fernando Henrique e declarou, em matéria sardônica, que a luta pelo afastamento da ocupação militar dos morros pelo tráfico, com a implantação das UPPs era "enganação". É isso mesmo. Assim que começou a operação no Complexo do Alemão, o diplomata, lá dos EUA, enviou matéria denominada "Me engana que eu gosto", publicada no Valor, dizendo que "a batalha no Complexo do Alemão, no Rio, não vai vencer crime organizado algum".

Mas a sua mais destacada intervenção foi como palestrante do Watson Institute, da Brown University, no dia 21 de janeiro de 2010. Falando em inglês, e em estado de embevecimento, refere-se aos EUA como "o colosso do norte".

Sobre o relatório, do qual tratamos em matéria publicada no HP na edição anterior, destacamos o total descaso pela apresentação de qualquer prova além das testemunhas (naturalmente orientadas pelos abutres que querem tomar o poder na Síria a mando dos EUA e – pelo que vemos da ilustre equipe de elaboradores do "inquérito" – pelos próprios formuladores das perguntas). Em matéria a que tivemos acesso logo depois da que publiquei no HP, o jornalista Tony Carlucci (Liberty News Radio), intitulada "Informe da ONU sobre a Síria: baseado em testemunhos de... FORA da Síria", enfatiza a mesma total e indecorosa falta de veracidade: "os entrevistados não são provas, mas ao contrário, disseminadores de rumores de grupos com interesse pessoal em retratar o governo sírio da pior maneira possível".

Não é à toa que, percebendo o principal rombo no informe, Pinheiro concede entrevista no dia seguinte à publicação do mesmo, na Folha, onde diz (e a Folha reproduz em título) que "Não entrar na Síria não prejudicou o relatório...". Isso depois de ter reclamado do governo sírio por não haver deixado entrar a comissão no país.

Agora está claro por que não faria diferença alguma entrar ou deixar de entrar na Síria; o relatório já estava soprado pelo Middle East Policy Council.

Como bem qualifica o embaixador sírio na ONU, Bashar Jafari, é um relatório "desequilibrado" por que "só pede o cessar da violência da parte das autoridades sírias, mas mal menciona os rebeldes armados que estão atacando as forças oficiais".

Aqui lembramos, conforme mostramos na matéria anterior, que o governo sírio se declarou disposto a receber a comissão. Apenas pediu que a mesma aguardasse o final das investigações que o próprio governo sírio está levando a cabo, para assim poder melhor assessorá-los na busca da verdade sobre a violência no país.

A provocação, para produzir efeito, tem, claro, outras facetas, além do relatório em tela. O vice-ministro do Exterior sírio, Faisal Mikdad, denunciou que muitos civis foram, de fato, "vilmente assassinados durante os distúrbios" e que "criminosos detidos pela polícia confessaram que dispararam contra manifestantes pacíficos para ‘manter o ritmo dos protestos’".

Aliás, assim como tem ocorrido praticamente todos os dias desde o mês de março, mais um carregamento de armas foi pego em um carro que entrava na cidade síria de Homs, no dia 1º de dezembro. As armas confiscadas aos terroristas eram uma metralhadora, mais 4.300 balas correspondentes, dois RPGs (granadas propelidas a foguete), 50 rifles e 8.000 balas correspondentes.

Segundo a agência de notícias Rússia Today, o chanceler russo Lavrov esclarece que toda a farsa com a devida pirotecnia midiática tem uma razão de ser: "o Oriente Médio é um espaço disputado por certos Estados que se ressentem de estarem perdendo posições na economia mundial e sob ameaça de serem deslocados da arquitetura financeira internacional".

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