sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Rebeldes da Otan prometeram 35% do petróleo líbio à França

O ministro do Exterior francês, Alan Juppé, quis justificar o crime: “a operação na Líbia é muito dispendiosa"


Escrito por: Leonardo Severo


Uma carta datada de 3 abril dirigida pelos “rebeldes” do autointitulado Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia ao emir do Catar explicita de forma categórica os reais motivos que levaram os governos da França e da Inglaterra a se empenharem tanto - e a mobilizarem suas agências de “notícias” - para demonizar o governo de Muamar Kadafi e justificar a agressão à rica nação norte-africana.

Publicada pelo jornal “Liberation” às vésperas do encontro dos países “muy amigos” da Líbia - que reuniu governos agressores e alguns incautos em Paris no dia 1º -, a carta esclarece que os mercenários do CNT se comprometeram a destinar à França nada menos do que 35% da produção de petróleo em troca do seu reconhecimento como “governo legítimo”.

Diz a carta-promessa dos “rebeldes” da Otan ao emir: “E quanto ao acordo sobre o petróleo fechado com a França em troca do reconhecimento na cúpula de Londres, como representante legítimo da Líbia delegamos o irmão Mahmoud [Shamman, “ministro” de meios de comunicação do CNT] para que firme esse pacto que atribui 35% do total do petróleo bruto aos franceses em troca do respaldo total e permanente a nosso Conselho”. Representantes de 61 países atenderam à intimação de Sarkozy para assistir a partilha do petróleo do povo líbio entre os cabeças da Otan.

Ao ser questionado sobre a carta publicada no “Liberation”, o ministro do Exterior francês, Alan Juppé, desconversou, mas sem deixar de admitir a preferência: “Não estou ciente dessa carta. O que eu sei é que o CNT disse muito oficialmente que, com relação à reconstrução da Líbia, daria preferência àqueles que ajudaram o país. Isso parece lógico para mim”. Juppé também justificou o percentual: “A operação na Líbia é muito dispendiosa. É também um investimento no futuro”.

Incomodado com a voracidade do apetite manifestado pelos franceses, o ministro do Exterior da Inglaterra, William Hague, reagiu, ameaçando taxativo: “as empresas britânicas não ficarão para trás”.

Em entrevista à rádio RTL, Alain Juppé defendeu ainda que se coloque rapidamente nas mãos dos seus agentes do CNT todos os recursos que necessitar para “estabilizar” a situação. “Precisamos ajudar o Conselho Nacional de Transição porque o país está devastado, a situação humanitária é difícil e existe uma falta de água, eletricidade e combustível”, disse o criminoso humanitário.

A expectativa de franceses, ingleses e estadunidenses é que a Comissão de Sanções da ONU aprove imediatamente a liberação de um quinto do total de ativos líbios - de cerca de 7,6 bilhões de euros - atualmente confiscados na França, e também os recursos semelhantes de fundos líbios existentes nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Obviamente tais montantes seriam “reinvestidos” para que as empresas destes países trabalhassem na reconstrução da Líbia – que está tendo suas cidades devastadas pelos bombardeios “cirúrgicos” em hospitais, creches e escolas, levando ao colapso sua infraestrutura.

A “desinteressada ajuda” do emir do Catar preparou terreno à invasão da Otan por meio da sua rede de televisão, a Al-Jazira, que vinha alegando que o governo Kadafi estava bombardeando e massacrando civis nas ruas de Benghazi, o que tornaria necessária e urgente uma rápida “intervenção humanitária”. Conforme denunciou o embaixador do Brasil na Líbia, George Ney de Souza Fernandes, “não houve bombardeio algum. Isso foi um bombardeio noticioso da Al-Jazira”.

O mesmo emir foi parceiro do presidente francês Nicolas Sarkozy nas inúmeras entregas secretas de armas aos mercenários do CNT, transgressão que só foi admitida oficialmente no mês de julho, após consumada a ação golpista.

Como se reeditassem a Partilha da África, quando na segunda metade do século 19 as potências europeias retaliaram o continente, sangrando suas riquezas e escravizando seus povos, os países imperialistas se lançam como chacais no assalto à Líbia. O país é o quarto maior produtor de petróleo da África – e o de melhor qualidade – detentor de uma reserva de 60 bilhões de barris, dono de imensas reservas subterrâneas de água, de mais de um bilhão e 500 milhões de metros cúbicos de gás, ocupando uma posição estratégica no mundo árabe e no centro do Mediterrâneo.

Autor de Coração das Trevas e Nostromo, duas obras magistrais sobre aquele infame período que os imperialistas tentam reeditar, o inglês James Conrad lembra que “a administração deles era mera extorsão e nada mais... Agarravam o que podiam, e simplesmente porque estava ali para ser agarrado. Era simples assalto com violência, agravado com assassinato em alto grau e praticado às cegas pelos homens – como é próprio daqueles que tateiam na escuridão”.

http://www.cut.org.br/destaque-central/45951/rebeldes-da-otan-prometeram-35-do-petroleo-libio-a-franca?utm_source=cut&utm_medium=email&utm_term=informacut&utm_campaign=informacut

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