terça-feira, 31 de maio de 2011

OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer

Por O Globo | Agência O Globo

RIO - Pela primeira vez desde que estudos começaram a ser feitos, a Organização Mundial da Saúde alertou nesta terça-feira para a existência de uma relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer. A agência agora classifica o uso dos aparelhos na categoria de potencial cancerígeno, a mesma para chumbo e clorofórmio.

Antes do anúncio, a OMS chegou a garantir aos consumidores que nenhum aviso de risco à saúde havia sido estabelecido. Mas uma equipe de 31 cientistas de 14 países tomou a decisão de revisar estudos sobre segurança dos celulares. O grupo descobriu evidências suficientes para classificar a exposição pessoal como "possivelmente cancerígena para humanos".

Isso significa que, até agora, não há pesquisas suficientes para esclarecer se a radiação de celulares é segura, mas há dados o bastante mostrando uma possível relação à qual os consumidores deveriam ficar atentos.

- O maior problema que nós temos é que sabemos que fatores ambientais precisam de décadas de exposição até realmente vermos as consequências - disse à CNN Keith Black, neurologista chefe do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

O tipo de radiação emitida por um celular é chamada não ionizante. Não é como um aparelho de Raio-X, mas se parece mais com um forno microondas de muito baixa potência.

- O que as microondas de radiação fazem, nos termos mais simplistas, é parecido com o que acontece com a comida no microondas, só que com o nosso cérebro. Então, além de poder acarretar o desenvolvimento de tumores, elas poderiam causar uma série de outros efeitos, como danificar a função de memória cognitiva, já que os lobos de memória temporal ficam onde seguramos nossos celulares - completa Black.

A Agência Europeia de Meio Ambiente solicitou a realização de novos estudos, afirmando que os celulares podem ser um risco à saúde pública como a fumaça, amianto e gasolina com chumbo. O coordenador de um instituto de pesquisa sobre câncer na Universidade de Pittsburg enviou um memorando a todos os funcionários pedindo a eles que limitassem o uso de celulares, devido ao risco de desenvolver câncer.

http://br.noticias.yahoo.com/oms-chama-aten%C3%A7%C3%A3o-rela%C3%A7%C3%A3o-uso-celulares-desenvolvimento-c%C3%A2ncer-174724442.html

Celular deve matar mais que o cigarro, diz médico

31/03/2008 - 16h11
da Folha Online
O uso do celular deve matar mais que o cigarro em alguns anos, segundo estudo de um médico australiano publicado nainternet. Vini Khurana, um neurocirurgião que recebeu 14 prêmios em 16 anos, pede que a população use o aparelho o mínimo possível, principalmente quando se trata de crianças.

O médico analisou cerca de cem trabalhos científicos publicados sobre o tema para chegar às suas conclusões. Segundo ele, há ao menos oito estudos clínicos que indicam uma ligação entre o uso de celulares e certos tipos de tumor no cérebro.

"Já há previsões de que esse perigo tenha mais ramificações para a saúde pública do que o amianto ou o fumo. Isso gera preocupações para todos nós, especialmente com a geração mais nova", afirma Khurana, que é professor de neurocirurgia na Faculdade Nacional de Medicina da Austrália, no estudo.

A comparação entre as mortes causadas por cigarro e por celular se deve ao fato de, atualmente, cerca de 3 bilhões de pessoas usarem esses aparelhos, número três vezes maior que o de fumantes, afirmou ele ao jornal "The Independent".

Processo lento

Para Khurana, ainda não há mais dados sobre o assunto pelo fato de a intensificação no uso dos celulares ainda ser recente. Ele afirma que o período de "incubação" --tempo entre o início da utilização do aparelho e o diagnóstico do câncer em um indivíduo-- dura de dez a 20 anos.

"Entre os anos de 2008 e 2012, nós teremos atingido o tempo apropriado para começar a observar definitivamente o impacto dessa tecnologia global nos índices de câncer de cérebro", diz ele.

Para evitar o problema, Khurana sugere, entre outras medidas, que as pessoas evitem ao máximo o uso do celular, dando preferência ao telefone fixo. Ele pede também moderação no uso de Bluetooth e de headsets (fone de ouvido com microfone) sem fio. Outra dica, de acordo com o médico, é usar o viva-voz para falar, mantendo o celular a pelo menos 20 cm da cabeça.

Em janeiro deste ano, o governo francês pediu "prudência" no uso de celular pelas crianças, apesar de não ter dados científicos que comprovem os malefícios do aparelho para a saúde.

O ministério pediu que as "famílias sejam prudentes e saibam usar estes aparelhos", lembrando que é recomendado o uso moderado do celular, principalmente pelas crianças, "que são mais sensíveis porque seus organismos ainda estão em desenvolvimento".

http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u387545.shtml


segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Estado não pode lavar as mãos diante de mortes anunciadas

NOTA PÚBLICA

O Estado não pode lavar as mãos diante de mortes anunciadas
A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra reputa como muito
estranhas as afirmativas de representantes da Secretaria Estadual de Segurança
Pública do Pará, do Ibama e do Incra que disseram no dia 25 de maio desconhecer as
ameaças de morte sofridas pelos trabalhadores José Claudio Ribeiro da Silva e Maria
do Espírito Santo da Silva, assassinados a mando de madeireiros no dia 24, em Nova
Ipixuna (PA). O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, chegou a afirmar
que o casal não constava de nenhuma relação de ameaçados em conflitos agrários,
elaborada pela Ouvidoria ou pela Comissão Nacional de Combate à Violência no
Campo.
A CPT, que desde 1985 presta um serviço à sociedade brasileira registrando e
divulgando um relatório anual dos conflitos no campo e das violências sofridas pelos
trabalhadores e trabalhadoras, com destaque para os assassinatos e ameaças de
morte, desde 2001 registrou entre os ameaçados de morte o nome de José Claudio.
Seu nome aparece nos relatórios de 2001, 2002 e 2009. E nos relatórios de 2004,
2005 e 2010 constam o nome dele e de sua esposa, Maria do Espírito Santo. Pela sua
metodologia, a CPT registra a cada ano só as ocorrências de novas ameaças.
Também o nome de Adelino Ramos, assassinado no dia 27 de maio, em Vista
Alegre do Abunã, Rondônia, constou da lista de ameaçados de 2008. Em 22 de julho
de 2010, o senhor Adelino participou de audiência, em Manaus, com o Ouvidor Agrário
Nacional, Dr. Gercino Filho, e a Comissão de Combate à Violência e Conflitos no
Campo e denunciou as ameaças que vinha sofrendo constantemente, inclusive
citando nomes dos responsáveis pelas ameaças.
No dia 29 de abril de 2010, a CPT entregou ao ministro da Justiça, Luiz Paulo
Barreto, os dados dos Conflitos e da Violência no Campo, compilados nos relatórios
anuais divulgados pela pastoral desde 1985. Um dos documentos entregue foi a
relação de Assassinatos e Julgamentos de 1985 a 2009. Até 2010, foram
assassinadas 1580 pessoas, em 1186 ocorrências. Destas somente 91 foram a
julgamento com a condenação de apenas 21 mandantes e 73 executores. Dos
mandantes condenados somente Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser
um dos mandantes do assassinato de Irmã Dorothy Stang, continua preso.
As mortes no campo podem se intitular de Crônicas de mortes anunciadas. De
2000 a 2011, a CPT tem registrado em seu banco de dados ameaças de morte no
campo, contra 1.855 pessoas. De 207 pessoas há o registro de terem sofrido mais de
uma ameaça. E destas, 42 foram assassinadas e outras 30 sofreram tentativas de
assassinato. 102 pessoas, das 207, foram ou são lideranças e 27 religiosos ou
agentes de pastoral.
O que se assiste em nosso país é uma contra-reforma agrária e é uma falácia o
tal desmatamento zero. O poder do latifúndio, travestido hoje de agronegócio, impõe
suas regras afrontando o direito dos posseiros, pequenos agricultores, comunidades
quilombolas e indígenas e outras categorias camponesas. Também avança sobre
reservas ambientais e reservas extrativistas. O apoio, incentivo e financiamento do
Estado ao agronegócio, o fortalece para seguir adiante, acobertado pelo discurso do
desenvolvimento econômico que nada mais é do que a negação dos direitos
fundamentais da pessoa, do meio ambiente e da natureza. Isso ficou explícito durante
a votação do novo Código Florestal que melhor poderia se denominar de Código do
Desmatamento. Além de flexibilizar as leis, a repugnante atitude dos deputados
ruralistas, que vaiaram o anúncio da morte do casal, vem reafirmar que o interesse do
grupo está em garantir o avanço do capital sobre as florestas, pouco se importando
com as diferentes formas de vida que elas sustentam e muito menos com a vida de
quem as defende. A violência no campo é alimentada, sobretudo, pela impunidade,
como se pode concluir dos números dos assassinatos e julgamentos. O poder
judiciário, sempre ágil para atender os reclamos do agronegócio, mostra-se pouco ou
nada interessado quando as vítimas são os trabalhadores e trabalhadoras do campo.
A morte é uma decorrência do modelo de exploração econômica que se
implanta a ferro e fogo. Os que tentam se opor a este modelo devem ser cooptados
por migalhas ou promessas, como ocorre em Belo Monte, silenciados ou eliminados.
A Coordenação Nacional da CPT vê que na Amazônia matar e desmatar
andam juntos. Por isso exige uma ação forte e eficaz do governo, reconhecendo e
titulando os territórios das populações e comunidades amazônidas, estabelecendo
limites à ação das madeireiras e empresas do agronegócio em sua voracidade sobre
os bens da natureza. Também exige do judiciário medidas concretas que ponham um
fim à impunidade no campo.
Goiânia, 30 de maio de 2011.
A Coordenação Nacional da CPT

Otan pede desculpas pela morte de civis no Afeganistão

Cabul, 30 mai (EFE).- A Otan emitiu nesta segunda-feira um comunicado no qual pediu perdão pela morte de civis em um bombardeio aéreo registrado no sábado passado na província sulina afegã de Helmand.

"Em nome da coalizão ofereço nossas sinceras desculpas aos familiares e amigos dos mortos", diz no texto John Toolan, comandante-em-chefe da missão da Otan no Afeganistão, a Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf).

No comunicado, assinado conjuntamente pelo chefe da Isaf, o general David Petraeus, e seu número dois, o general David Rodríguez, se afirma que "a coalizão leva muito a sério cada ferido ou morte de civis e tentará prevenir no futuro este tipo de incidentes".

Segundo a informação à disposição das forças da Isaf, uma patrulha da coalizão foi atacada por cinco insurgentes no distrito de Naw Zad, província de Helmand, durante o qual um marine morreu.

"Posteriormente, os cinco insurgentes continuaram atacando de uma casa próxima, por isso que as tropas da Otan solicitaram ajuda área para neutralizar o ataque", indica o relatório.

"Infelizmente, após o ataque se descobriu que o lugar onde se os insurgentes haviam entrincheirado era na realidade a casa de civis inocentes", indica a Isaf no comunicado.

O relatório da Otan concretizou que uma investigação exaustiva está sendo realizada para determinar os detalhes exatos que provocaram o incidente.

No comunicado se pede perdão pela morte de nove civis, embora segundo fontes oficiais afegãs, no incidente até morreram 14 pessoas, que não eram insurgentes.

As mortes de civis são um dos pontos de atrito frequentes entre o Governo afegão e as tropas internacionais desdobradas no país, cerca de 150 mil soldados.

As organizações de direitos humanos atribuem aos talibãs a maioria das mortes de civis, mas as autoridades afegãs, com o presidente Hamid Karzai à frente, qualificaram ao mesmo tempo de "inaceitáveis" as vítimas civis em bombardeios da Isaf EFE

http://br.noticias.yahoo.com/otan-pede-desculpas-morte-civis-afeganist%C3%A3o-060010821.html

sábado, 28 de maio de 2011

Tunísia: mobilização popular derruba governo

Central sindical UGTT joga papel central na luta que continua

Escrito por: Júlio Turra


Na Tunísia, país árabe do norte da África, o ano de 2011 começou marcado por uma mobilização popular enorme que já provocou a fuga do país, em 14 de janeiro, do ditador Ben Ali, com a constituição de um governo provisório encabeçado por ministros e membros do seu partido (RCD) Durante semanas, a mobilização da juventude, dos trabalhadores e da população, se dirigiu contra o regime e suas instituições.

Em 17 de dezembro um jovem vendedor ambulante suicidou-se (imolando-se com fogo) em protesto contra a apreensão pela política de suas mercadorias. Foi um estopim para revoltas em várias cidades entre 3 e 10 de janeiro contra a alta de preços e a opressão do regime, contra o desemprego e as precárias condições de vida e trabalho neste país de 11 milhões de habitantes, cujo governo era apresentado como “modelo” pelo FMI poucos meses antes da insurreição popular que desembocou numa verdadeira revolução.

Em sua mobilização, o povo procurou apoiar-se nos sindicatos e na União Geral de Trabalhadores da Tunísia (UGTT), central sindical histórica..

Nos bairros da capital Túnez e em várias cidades do interior formaram-se comitês populares que organizaram a defesa da população contra a repressão policial e que se reúnem, em sua maioria, em locais sindicais. A situação levou o Exército a pedir ao tirano Ben Ali que abandonasse o poder, que passou às mãos de seu primeiro;ministro Gannuchi (do mesmo partido RCD) que convocou setores da oposição legal a constituir um governo provisório.

Num primeiro momento três partidos de oposição e a própria direção da UGTT indicaram ministros para este governo provisório, mas as massas populares continuaram nas ruas com palavras de ordem como “o ditador foi embora, é preciso acabar com a ditadura”, exigindo que todos os membros do RCD fossem embora também e o partido, que controlava todo o aparelho de Estado, dissolvido.

Em alguns lugares, como em Kasserin, cidade mártir da repressão, a administração e a polícia foram substituídas por comitês populares que controlam a vida cotidiana. .

UGTT rompe com o governo provisório

O governo de Ben Ali e do RCD era um dos principais aliados do Estado de Israel na região e aplicava os planos exigidos pelo FMI e pelos acordos de associação com a União Européia, os mesmos que levaram a população á revolta. Iniciada com a palavra de ordem “Pão, água, não Ben Ali!”, o movimento revolucionário continua levantando a exigência de “Fora o RCD”

A proclamação do toque de recolher, o deslocamento do exército (permitindo a retirada da polícia, milícia do regime e responsável pelas mortes), a nomeação do primeiro-ministro como presidente interino, seu convite para reunir-se com os partidos de oposição (uma parte deles só existe no estrangeiro), em nome da “transição constitucional”, expressa a busca da preservação do regime. .

Nesta situação, inúmeros sindicatos de base e uniões regionais da UGTT tomaram posição contrária à manutenção do RCD no poder, o que levou a sua direção executiva a reunir-se em 18 de janeiro e adotar um comunicado, firmado pelo seu secretário geral Abdel Salam Jarad, no qual propõe, entre outras, as seguidas medidas de urgência: :

“- Exigir o congelamento das contas bancárias do antigo presidente (Ben Ali) e de sua família, a nacionalização de seus bens,

- Dissolução do partido Reagrupamento Constitucional Democrático (RCD) de Ben Ali,

- Considerando que o governo de coalizão não corresponde a nossas idéias e exigências e tampouco à aspiração do povo e trabalhadores em todos seus componenentes, decide a retirada de nossos representantes do governo, a demissão de nossos sindicalistas eleitos da Assembléia nacional, da Assembléia do conselho e dos conselhos municipais e a suspensão da participação da UGTT no conselho econômico e social,

;- Recusar qualquer intervenção estrangeira nos assuntos internos de nosso povo pois ele derrubou um presidente que o reprimia, logo o povo decidiu sua própria sorte sem ingerência estrangeira,

- Exigir a constituição de uma assembléia constituinte através de eleições livres e democráticas que reflitam a vontade do povo.”

A situação na Tunísia segue instável e essas posições adotadas pela UGTT merecem o apoio do conjunto do movimento sindical internacional e da CUT, pois apontam uma saída conforme a vontade expressa do povo tunisiano de livrar-se do corrupto regime imposto pelo RCD e decidir soberanamente o seu futuro, sem intervenção estrangeira. O partido de Ben Ali, o RCD, fazia parte da Internacional Socialista, da qual foi excluído após a eclosão da revolução. Já a UGTT é uma central sindical filiada à CSI.

Todo apoio à luta do povo da Tunísia pela democracia e pela justiça social!

Solidariedade com os companheiros da UGTT na luta por uma assembléia constituinte soberana!

Nenhuma intervenção estrangeira na Tunísia, cabe ao seu povo decidir o seu destino!

O mito da eficiência do agronegócio

Código Florestal e a ineficiência do agronegócio

20 de maio de 2011

Por Gerson Teixeira
Do Núcleo Agrário do PT

No site do MST

Às vésperas da provável aprovação, pela Câmara dos Deputados, do Substitutivo Aldo Rebelo ao PL que altera o Código Florestal, todas as complexas dimensões da matéria foram mais ou menos abordadas nos debates do tema processados nos últimos meses. No entanto, as ponderações mais importantes da comunidade científica, amplificadas por políticos, lideranças da sociedade civil e ambientalistas, sobre os potenciais danos socioambientais da propositura, dificilmente serão observadas no texto da futura Lei.

Está claro que na perspectiva dos interesses seccionais do agronegócio, os objetivos essenciais para a aprovação do texto do Substitutivo na versão que circulou até a semana passada, envolvem: (i) o resgate da regularidade ambiental, por meio da anistia de multas e do rebaixamento dos compromissos com a recuperação de passivos ambientais, especialmente em RL e APP; e (ii) a liberação de áreas para a expansão das suas atividades através da institucionalização das chamadas “áreas consolidadas” e da precarização da legislação ambiental, via a sua descentralização.

No plano da prática política dos ruralistas, essas demandas replicam, na temática ambiental, as estratégias políticas exitosas consagradas nas sistemáticas ações pelo alongamento, repactuação e remissão de dívidas no crédito rural.

Contudo, se no caso do endividamento os ruralistas sempre enfrentaram (com êxito), resistências políticas por conta dos desdobramentos fiscais dessas medidas, os propósitos de relaxamento dos passivos e da legislação ambiental, encontram receptividade, ainda que tácita, em parcela razoável da sociedade e do governo.

Isto porque, os pesados ônus políticos e ambientais de tais concessões são relativizados ante as projeções dos substantivos “ganhos econômicos” para o país com a forte inserção do agronegócio brasileiro em um mercado internacional progressivamente mais atrativo para as commodities agrícolas.

Por essa razão (entre outras), os ruralistas demandam a aprovação da proposta Aldo para disponibilizar mais áreas para a atividade agrícola, e assim libertar a atividade do suposto engessamento institucional atual para a viabilização do potencial produtivo da agricultura brasileira.

Na realidade, trata-se de discurso oportunista na busca de “saída fácil” para as insuficiências estruturais da base primária do agronegócio.

Afora a confortável posição do Brasil em termos de disponibilidade de áreas agricultáveis (não exploradas ou ineficientemente exploradas), a realidade mostra que o grande óbice aos objetivos produtivistas da atividade agrícola no Brasil está associado aos discretos índices de produtividade dos seus principais produtos no plano mundial.

Uma eventual aproximação dos níveis de produtividade desses produtos aos verificados nos países de primeira linha possibilitariam o crescimento exponencial da produção agrícola brasileira, sem a necessidade de concessões descabidas e de mutilações das normas ambientais em vigor.

Os dados da FAO, referentes ao ano de 2009 confirmam essa realidade para produtos estratégicos do agronegócio, desautorizando, portanto, as pregações acerca da excelência dos padrões técnicos do agronegócio brasileiro.

No caso do arroz, a produtividade média do produto no Brasil, de 4.365 Kg/Ha, coloca o país em 37ª posição no ranking mundial, atrás de países como El Salvador, Peru, Somália, Ruanda, etc.

A produtividade média do milho no Brasil é ainda mais irrelevante em termos globais. Ocupamos a 64ª posição mundial com produtividade média de 3.7148 Kg/Ha.

No trigo, a insignificância dos níveis médios da produtividade do produto no Brasil assume proporções vergonhosas. Com 2.200 Kg/Ha, o Brasil está situado na 72ª posição.

Mesmo na soja, o produto carro-chefe do agronegócio exportador brasileiro, a produtividade média, de 2.636 Kg/Ha, coloca o país na 9ª posição no ranking mundial.

Na média de todos os cereais, a produtividade no Brasil em 2009, foi de 3.526 Kg/Ha, o que colocou o país no 56º posto em termos globais.

Na pecuária de corte, afora a sofrível relação UA/área, o nosso índice médio de produtividade, expresso em peso da carcaça, de 220 Kg/Animal, posiciona o país na 48ª colocação em todo o mundo.

É óbvio que os níveis da produtividade são fruto da interação de muitas variáveis. Em cima desse fato, poderia haver a alegação de que diferenças de fertilidade ou outras condições justificariam tal desempenho do agronegócio brasileiro vis a vis os países que lideram os níveis de produtividade.

Não obstante as nossas inegáveis potencialidades naturais para a atividade agrícola, essa argumentação perde substância diante dos gastos desproporcionais do país com fertilizantes e agrotóxicos. Em tese, a utilização superintensiva desses produtos contrarrestaria os fatores, na esfera natural, que propiciariam a outros países maiores desempenho em produtividade.

De acordo com o IFA – International Fertilizer Industry Association, o Brasil é o 4º maior consumidor de fertilizantes em todo o mundo, atrás, apenas, da China, Índia e Estados Unidos. Observe-se que, por exemplo, a área com cereais na China é 4.4 vezes superior á do Brasil; nos EUA, é 3 vezes maior; e, na Índia, 4.8 vezes superior que a área com cereais no Brasil.

Quanto aos agrotóxicos, desde 2009 nos transformamos nos maiores consumidores mundiais desses produtos conforme estudo encomendado pela ANDEF – Associação Nacional de Defesa Vegetal.

Corroborando essa posição, os dados da FAO (FAOSTAT), atestam que a partir de 2007 nos transformamos no principal país importador de agrotóxicos.

Naquele ano, importamos US$ 282 milhões em inseticidas (incremento de 217% sobre o ano de 2000); com o Vietnã em segundo lugar, com importações de US$ 150.2 milhões.

Em fungicidas, importamos US$ 242 milhões (incremento de 473% sobre as importações de 2000), contra US$ 140 milhões da China, segundo maior importador. Os dispêndios com importações de herbicidas somaram US$ 276 milhões (incremento de 139% sobre o ano de 2000). A Ucrânia, em segundo lugar, importou US$ 171.4 milhões.

Em suma, esses dados mostram que, dominantemente, a agricultura braseira ainda não completou a modernização conservadora, daí os níveis relativamente medíocres da produtividade. Ou seja, ainda estamos no curso de uma “revolução verde” tardia. Não é à toa que, diversamente da maior parte dos países com tradição agrícola, somente na primeira década deste século os índices de produção líquida per capita de alimentos no Brasil passaram a ser positivos, i.e, a taxa de crescimento da produção passou a suplantar a taxa de incremento populacional.

Significa que mesmo nos marcos da ciência agronômica que fornece o substrato técnico do modelo produtivista, o Brasil não incorporou as mais modernas inovações produtivas e de gestão.

A eloqüência dos discursos dos ruralistas sobre a excelência produtivista do agronegócio encontra-se bem a frente dos indicadores reais da atividade. Estivessem esses indicadores, compatíveis com os discursos, o Brasil já teria multiplicado a sua produção agropecuária sem a necessidade de precarizar ou afrouxar as normas ambientais em prejuízo do futuro do próprio país.

Enfim, essa alegação para a alteração do Código Florestal não passa de uma confissão da própria incompetência. Reafirma o descompromisso natural de grande parte dos ruralistas com qualquer coisa que ultrapassa o mata-burro da fazenda.

http://www.viomundo.com.br/politica/gerson-teixeira-o-mito-da-eficiencia-do-agronegocio.html

Luta pela terra custa vidas no Brasil

28/05/2011

Mesmo marcado para morrer, casal de extrativistas não recebeu proteção da Justiça, denuncia Fetagri-PA

Escrito por: Direção Executiva da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Pará (FETAGRI-PA)

Na manhã dessa terça feira (24), o casal José Cláudio Ribeiro da Silva – Zé Cláudio – e Maria do Espírito Santo Silva, pais de dois filhos, ambas lideranças de agricultores agroextrativistas, se deslocavam para a cidade de Nova Ipixuna, a 50 km de Marabá, quando foram covardemente assassinados em emboscada ao passarem por uma ponte quebrada a aproximadamente 5 km de sua residência.


O Companheiro Zé Cláudio e sua esposa Maria eram ex-presidentes da Associação do Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira – Nova Ipixuna – PA, criado em 1997. Sempre foram defensores da floresta e há anos vinham denunciando as ações dos fazendeiros e madeireiros da região que já desmataram cerca de 60% da floresta do assentamento.


Mesmo fazendo parte da lista dos marcados para morrer no Pará, nada foi feito para defender a vida do companheiro e da sua esposa, que lutavam contra o desmatamento, e foram constantemente ameaçados de morte pelos madeireiros da região. Uma das últimas denuncias feitas por José Claudio em publico ocorreu na ocasião de sua participação no TED x Amazônia, evento que reuniu cinqüenta pensadores do Brasil e do mundo em novembro de 2010 na cidade de Manaus. O companheiro afirmava que a próxima noticia que teriam dele seria a do seu assassinato. Ele também foi personagem de um documentário feito pela TV Record sobre os marcados para morrer e o desmatamento na Amazônia.

A FETAGRI-PA, que tem 144 sindicatos filiados em sua base e sempre combateu a violência no campo, mais uma vez lamenta uma morte anunciada das lideranças dos agricultores familiares e agroextrativistas. Para a FETAGRI-PA a violência no campo, é conseqüência do desmatamento feito por madeireiros, pelos grandes projetos agropecuários no Estado do Pará, pela prática do trabalho escravo e pela fraude dos títulos de terras mais conhecidos como Grilagem no Campo.


A FETAGRI-PA realizou no dia 13 de maio, na Assembléia Legislativa do Estado, um seminário sobre Violência no Campo e Combate a Grilagem, com a presença da Ouvidoria Agrária Nacional, INCRA, Secretaria Nacional de Direitos Humanos e a Ouvidoria Agrária do Estado, onde mais uma vez cobrou do judiciário e do Estado ações concretas de combate a violência e a grilagem no campo. Ocorreram depoimentos de lideranças ameaçadas de morte e o ressurgimento de forma seletiva dos assassinatos das lideranças dos Trabalhadores e Trabalhadoras rurais. Mais uma vez destacou a necessidade da segurança de vida de sua Coordenadora Regional do Sudeste Maria Joel Dias Costa que entre outras é uma das lideranças que está marcada para morrer.


A diretoria da FETAGRI-PA juntamente com 20 lideranças representantes de todas as regiões do Estado, se reuniram no dia 24 de maio com o Secretario Estadual de Segurança Pública, Luiz Fernandes, para cobrar do governo do Estado uma investigação rigorosa para apurar e prender os pistoleiros e mandantes de mais um assassinato brutal dos defensores da Reforma Agrária e das Questões Ambientais.

Reafirmamos que este assassinato é uma demonstração clara dos poderosos latifúndios contra a reforma agrária em nosso Estado. Pedimos a imediata atuação da Policia Federal no caso, aja visto que o assentamento agroextrativista é competência da união.

Portanto reafirmamos nossa luta pela reforma agrária combatendo a violência no campo, o trabalho escravo, o desmatamento das nossas florestas e a grilagem de nossas terras, cobrando dos governos Estadual e Federal, Políticas Públicas de segurança para a concretização da Reforma Agrária, com sustentabilidade e sem violência.

http://www.cut.org.br/destaque-central/44990/luta-pela-terra-custa-vidas-no-brasil

Protesto termina com mais de cem feridos na Espanha

Praça de Barcelona havia sido tomada por marcha contra medidas de austeridade

27 de maio de 2011 | 15h 37

Associated Press
BARCELONA - Mais de cem pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira, 27, nos enfrentamentos entre a polícia antidistúrbios e manifestantes que protestavam contra as medidas de austeridade planejadas pelo governo em Barcelona, na Espanha. Os confrontos ocorreram em uma praça no centro da cidade catalã, quando as forças de segurança tentaram retirar a multidão do local.

Os manifestantes, que protestam contra a alta taxa de desemprego, as medidas de austeridade e contra os políticos à frente das diretrizes econômicas do país, se recusavam a deixar a praça, o que deu início aos tumultos. Imagens da televisão local mostraram os policiais usando bastões contra eles. Havia pessoas com mãos e cabeças ensanguentadas e até fraturas.

Felip Puig, porta-voz do Ministério do Interior regional para a Catalunha, afirmou que 84 manifestantes e 37 policiais ficaram feridos. Os oficiais foram vistos segurando pessoas, mas o porta-voz não informou se houve prisões e nem se houve feridos com gravidade.

Os espanhóis se manifestam há cerca de duas semanas contra a difícil situação econômica vivida pelo país e retornaram ao local após o tumulto. Segundo Puig, os confrontos começaram porque a multidão se recusou a abrir espaço para uma operação de limpeza na praça.

Unidos sob o slogan "Democracia de verdade e agora", milhares de jovens realizaram marchas em várias cidades espanholas desde o último dia 15 para mostrar seu descontentamento com o governo. O maior protesto ocorreu às vésperas das eleições regionais em Madri, onde não houve intervenção policial. Outras cidades também registraram manifestações.

O índice de desemprego entre os jovens de 16 e 25 anos de idade é de 45%, quase o dobro da média na União Europeia (21%) e superior aos 36% da Grécia, país que foi obrigado a recorrer a pacotes de ajuda financeira do bloco europeu e do FMI. Muitos criticam as leis espanholas, que dificultam a contratação de novos funcionários.

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,protesto-termina-com-mais-de-cem-feridos-na-espanha,724851,0.htm

Egito reabre fronteira com Faixa de Gaza permanentemente

Opera Mundi

As autoridades do Egito reabriram neste sábado 28 a passagem fronteiriça com a Faixa de Gaza de maneira permanente, pela primeira vez desde junho de 2007, com o objetivo de consolidar a reconciliação palestina, confirmaram fontes oficiais à Agência Efe.

A passagem foi aberta às 9h da hora local (4h de Brasília) e assim permanecerá até as 18h todos os dias da semana, exceto às sextas-feiras e em dias festivos.

Uma fonte oficial presente no lado egípcio da fronteira de Rafah assegurou à Efe que o ambiente era tranquilo e que não havia muita gente amontoada esperando para entrar na Faixa de Gaza, o que atribuiu ao fato de ontem ter sido dia festivo.

No último dia 25, o Egito decidiu abrir a passagem e aplicar o mesmo mecanismo vigente antes de 2007, que permitia a entrada dos cidadãos palestinos ao Egito através de todas suas passagens fronteiriças e aéreas.

A passagem de Rafah foi fechada em junho de 2007, depois que o grupo islamita palestino Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza após enfrentamentos armados com a facção nacionalista Fatah.

Desde essa data, a passagem só era aberta de forma esporádica para permitir a saída de doentes e a entrada de ajuda humanitária.

Após a revolução egípcia, que eclodiu em 25 de janeiro e desembocou na renúncia de Hosni Mubarak, o novo Governo egípcio se comprometeu a revisar a situação da passagem de Rafah a fim de aliviar o bloqueio israelense contra a faixa palestina.

A decisão adotada na última quarta-feira exime de visto prévio as mulheres palestinas de todas as idades, os homens menores de 18 anos e os maiores de 49 anos.

Também não precisarão de visto os palestinos que estudam em universidades egípcias e aqueles que cruzarem Rafah para receber tratamento médico no Egito.

A medida beneficia também as famílias palestinas de Gaza que usam Rafah para viagem de retorno ou saída a um terceiro país, com a condição de mostrarem passaportes da ANP (Autoridade Nacional Palestina) e vistos dos países que visitarão.

Um dia após ser conhecida a decisão egípcia, o Conselho Europeu decidiu estender sua missão de assistência na passagem fronteiriça de Rafah entre Gaza e Egito (Eubam, na sigla em inglês) até 31 de dezembro.

Em 4 de maio, o Fatah e o Hamas puseram fim a quatro anos de divisão, em cerimônia no Cairo na qual anunciaram oficialmente a assinatura do acordo de reconciliação palestina e, duas semanas depois, retomaram as negociações para a formação de um governo de união nacional.

http://www.cartacapital.com.br/politica/egito-reabre-fronteira-com-faixa-de-gaza-permanentemente

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Jovens se mobilizam na Espanha

20 de maio de 2011

Após o processo revolucionário na Tunísia, em que os jovens estiveram na linha de frente das mobilizações. O vento revolucionário soprou para a Europa, ainda que com suas particularidades. Publicamos abaixo comunicado da Organizácion Revolucionaria de la Juventud (ORJ), aderente espanhola da Internacional Revolucionária da Juventude em relação a situação.

Organizemo-nos! É possível impor os direitos da juventude, dos trabalhadores e dos povos!


A situação está impossível
5 milhões de desempregados, um milhão deles sem qualquer benefício. E nos prometem um desemprego maciço por anos, para que os banqueiros tapem seus buracos e se forrem.
[Milhares se mobilizam na praça do sol em Madrid]
Desmantelam a Educação, a Saúde, a Previdência, todo o público, hundiendo as condições de trabalho e de vida para que os especuladores façam negócio com estas necessidades básicas. Negam o presente e o futuro às gerações jovens.

Este é o Plano de Ajuste exigido pelos banqueiros, imposto pela ditadura de Bruxelas (sede da União Europeia) e do FMI, pisoteando a vontade soberana dos povos do Estado espanhol.

Basta de submissão!
O governo Zapatero, os dirigentes das forças parlamentares que foram criadas pela maioria trabalhadora, os dirigentes dos grandes sindicatos erguidos e sustentados pelos trabalhadores, todos se submetem à lei de reduzir o déficit e os gastos públicos imposta pela ditadura de Bruxelas e pelo FMI, a cujo serviço está a monarquia.

E para impor esta lei, reprimem a grevistas, partidos e candidaturas, mobilizações de jovens.

A grande maioria, nós não aceitamos
A atitude destes dirigentes nada tem a ver com a vontade da maioria trabalhadora, da juventude, dos filiados dos sindicatos e dos partidos de esquerda.

Em 29 de setembro, fomos em milhões à greve central usando as organizações dos trabalhadores, mas esta luta tem sido traída pelas cúpulas dirigentes.

Em Murcia, agora na Catalunha, centenas de milhares de trabalhadores se mobilizam para reverter os cortes orçamentais que inundem os serviços públicos. Utilizam as organizações, e não que os dirigentes aceitem os cortes em seu nome.

Enquanto isso, dezenas de milhares de jovens saem para a rua porque querem democracia e mundaças sociais.

A maioria, estamos pela nacionalização da bancária, retirar poder dos grandes grupos econômicos.

A maioria, estamos contra a guerra, pela retirada das tropas espanholas da Líbia, Afeganistão, etc.

A democracia significa que a vontade da maioria seja lei. Acabar com a ditadura do capital financeiro, e todos que se submetem à Bruxelas e ao FMI.

É preciso conquistar a soberania dos povos do Estado espanhol (e dos demais povos) para conquistar trabalho, estudo e habitação.

Organizemo-nos
Há alguns meses, os estudantes e também os professores da Universidade Rey Juan Carlos fizeram uma grande mobilização contra o cortes nos orçamentos das universidades. Têm razão: em todas as universidades estes cortes estão destruindo a Educação e - com a ajuda dos processos de Bolonha – o valor dos diplomas. Por que ficar isolados? Por que os sindicatos de professores, as associações de estudantes de todas as universidades não se coordenam para extender esta luta?

O interesse dos jovens que reivindicam trabalho, educação, habitação encontra com os interesses dos trabalhadores que lutam com os demitidos, em defesa da saúde e educação, buscando usar e arrastar suas organizações.

Juntos, podemos. Para ganharmos, é preciso unir todas as forças, organizações e coletivos, incorporar a todo o povo. Como têm feito os trabalhadores e jovens de Tunis, empreendendo uma revolução social baseada na recuperação dos sindicatos e nos comitês populares.

Nós, jovens, precisamos nos organizar. Precisamos nos unir em defesa de nossas reivindicações e buscar a unidade com os trabalhadores e suas organizações para botar abaixo a política do ajuste. Avancemos para assembléias de massa e unidade contra os cortes nos orçamentos das universidades, por um plano de criação de empregos públicos e de habitação pública, pela nacionalização do sistema bancário. Assembleias baseadas na liberdade de opinião e filiação, dirigidas por representantes eleitos e com mandato revogável. E criemos organizações democráticas, e não manipuladas por uns poucos.

Leiam no Boletim Internacional da Juventude como se entrelação em todo o mundo a luta dos membros da Internacional Revolucionária da Juventude. De nossa parte, preparamos um boletim de debate sobre os jovens e a luta pela democracia e mudanças sociais. Enviem-nos vossas contribuições.
ORJ - Organizácion Revolucionaria de la Juventud
Tradução: Priscilla Chandretti

Prisão perpétua para oito militares argentinos


Quinze presos, quatro deles que seguem desaparecidos, foram assassinados na Argentina, na localidade chaqueña de Margarita Belén, em dezembro de 1976, em uma operação conjunta do Exército e da polícia da província do Chaco, que simulou uma fuga. Na segunda-feira, oito militares foram condenados à prisão perpétua, acusados pelos assassinatos. É mais um caso de julgamento de militares acusados de crimes durante a ditadura argentina.

Transcorridos 35 anos dos fuzilamentos, dez da reabertura da ação judicial, depois de escutar mais de 120 testemunhas, em 60 audiências orais e públicas, a leitura da parte resolutiva da sentença levou menos de 30 minutos para fazer escutar a condenação à prisão perpétua de oito militares e do único policial sentado no banco dos réus, pelo assassinato de quinze pessoas, quatro das quais permanecem desaparecidas. Mas nem tudo foi tão simples. A convocatória original, para às 8h30min, apenas deu lugar às “últimas palavras” de Alfredo Chas, que em um discurso politicamente correto já havia se declarado inocente. O policial conseguiu, de forma inesperada, a absolvição.

Depois, a decisão do Tribunal Oral Federal de passar a leitura da sentença para às 17h, que desagradou todo o público, a ponto de desencadear uma reação inesperada: como nunca tinha acontecido ao longo do julgamento, familiares das vítimas e algozes passaram a fustigar os juízes.

Medida inapelável. Às 17 horas em ponto, Gladys Yunes, presidenta do Tribunal, leu a condenação à prisão perpétua contra Athos Rennes, Ernesto Simoni, Aldo Martínez Segón, Germán Riquelme, Jorge Carnero Sabol, Ricardo Reyes, Ricardo Losito (que já havia sido condenado a 25 anos na ação envolvendo o ex-Regimento de Infantaria 9, em Corrientes) e José Luis Patetta (também condenado a 25 anos, mas na causa Caballero que investigou a repressão ilegal no Departamento de Polícia do Chaco). Em troca, foi absolvido Luis Alfredo Chas, por falta de provas.

Todos os militares foram condenados como “coautores de homicídio agravado, por aleivosia e pelo número de vítimas”.

Com exclamações e lágrimas, familiares das vítimas escutavam as condenações. As condenações de Patetta e Losito foram os momentos de maior festejo, entre aplausos e alguma ironia solta. Mas, em geral, a audiência foi absolutamente tranquila.

Mas toda a calma terminou quando o Tribunal absolveu Chas. Os familiares do policial romperam em pranto (ainda que não tivessem muita esperança, porque, segundo testemunhos, adiantaram o casamento de uma neta do imputado para evitar que, após a sentença, não pudesse assistir a cerimônia) e descarregaram toda sua tensão contra os familiares das vítimas.

Chas, escutou sua absolvição por falta de provas, em pé, com uma certa expressão de surpresa.

Juan Andrés Sla, filho de Néstor – uma das vítimas do massacre – e de Mirta Clara – ex-presa política – pode descarregar sua raiva contra Patetta: “Foi você que assassinou meu pai”, gritou.

Por outro lado, a impotência da nova geração da Pierolada (sobrinhos de Fernando Piérola, que é uma das vítimas do dia 13 de dezembro de 1976 que continua desaparecida): “Onde estão os corpos de nossos companheiros, de nossa família?”, perguntavam aos gritos, enquanto a família Chas era retirada da sala.

Em outra parte da sentença, o Tribunal acatou a acusação de falso testemunho apresentada contra o ex-soldado e escritor frustrado Alfredo Maidana. Em troca, não aceitou o pedido da defesa que acusou de falso testemunho a Francisco “Tete” Romero, ministro de Educação. Os juízes também acataram o pedido de falso testemunho apresentado contra o ex-médico policial Orlando Grillo, que representa a cumplicidade civil do Chaco no terrorismo de Estado.

No entanto, os fundamentos completos da sentença serão conhecidos somente no dia 12 de julho, segundo anunciou a juíza Yunnes. Justamente no dia 12 de julho, Néstor Sala, vítima do massacre, estaria comemorando seu aniversário.

No final, o abraço compartilhado entre familiares das vítimas contrastava com o desgosto dos familiares dos acusados. Somente a esposa de Martínez Segón falou com a imprensa, para desqualificar a sentença. Para fazer calar qualquer rumor e como uma maneira de festejar um triunfo contra a impunidade de 35 anos, com os dedos em V ou com o punho erguido, os presentes começaram a cantar o Hino Nacional Argentino.

Mas, diferentemente do que aconteceu na sentença do processo Caballero, quando todos abraçavam os sobreviventes que falaram no julgamento, na sentença pelo massacre de Margarita Belén não havia sobreviventes para abraçar. Por isso, ganhou muito mais força e sentido o Hino quando a sala de audiências cantava: “Oh, juremos com glória morrer”.

Tradução: Katarina Peixoto

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17807