segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Historiador questiona crença na origem única do povo judeu

da Livraria da Folha

Em "A Invenção do Povo Judeu", Shlomo Sand afirma que, por força do tabu, nem mesmo cientistas israelenses questionam a eventual origem única dos judeus. Contudo, o historiador argumenta que a ideia é um equívoco.

Publicado no Brasil pela Benvirá, selo da editora Saraiva, o volume combate mitos e crenças religiosas, além da posição política de Israel. O título causou polêmica em todos os países em que foi publicado.

Shlomo, professor de história da Universidade de Tel Aviv, viveu os primeiros anos de vida em um campo de refugiados na Alemanha e foi soldado na Guerra dos Seis Dias (1967). Tornou-se militante e é favorável à consolidação de um Estado judaico-palestino.

O livro ficou 19 semanas na lista dos mais vendidos em Israel e recebeu o Prix Aujourd'hui. Leia um trecho do exemplar.

A marionete "científica" e o corcunda racista

Depois de Segunda Guerra, havia se tornado difícil usar termos como "raça" ou "sangue". Desde a publicação em 1950 da célebre declaração sob a égide da Unesco, de cientistas eminentes que desaprovavam completamente o vinculo entre cultura nacional e biologia e afirmavam que a ideia de raça se refere mais a um mito social que a um fato científico, os pesquisadores passaram a se abster de usara esses termos. Essa recusa geral e consensual não teve efeito nos cientistas israelenses, nem questionou a profunda crença sionista na origem única do povo errante. Embora "raça judaica" tenha desaparecido da retórica universitária comum, uma nova área científica surgiu sob o respeitável nome de "pesquisa sobre a origem das comunidades judaicas". No jargão jornalístico popular, foi simplesmente nomeada como "a pesquisa do gene judeu".

O Estado de Israel, que começou a agrupar uma parte das populações originárias das comunidades judaicas de toda a Europa, depois parte de inúmeros judeus do mundo muçulmano, se viu confrontado em seus primeiros anos com o problema urgente da cristalização de uma nação e de um povo novo. [...] Da Bíblia ao Palmach (unidade de combate do exército da população judaica da Palestina mandatária), a história "orgânica" do "povo judeu" foi difundida e ensinada em todos os níveis do sistema educacional do Estado. A pedagogia sionista moldou gerações de alunos que acreditaram ingenuamente na especificidade de sua "etnia" nacional. No entanto, na era do positivismo científico, a ideologia nacional tinha necessidade de um novo apoio, mais legítimo que aquele dado pelos recursos evanescentes das ciências humanas: os laboratórios de biologia foram então chamados ao socorro, mas responderam a princípio de maneira relativamente reservada.

Em um doutorado realizado na universidade de Tel-Aviv, Nurit Kirsh analisou os primórdios da pesquisa genética em Israel. Suas conclusões são categóricas: a genética, como a arqueologia nos anos 1950 em Israel, era uma ciência enviesada inteiramente dependente de uma concepção histórica nacional que se esforçava para encontrar uma homogeneidade biológica entre judeus ao redor do mundo. Os geneticistas haviam interiorizado o mito sionista e, por um processo semiconsciente, procuravam adaptar-lhe os resultados de suas pesquisas.

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"A Invenção do Povo "
Autor: Shlomo Sand
Editora: Benvirá
Páginas: 576
Quanto: R$ 46,75 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/960688-historiador-questiona-crenca-na-origem-unica-do-povo-judeu.shtml

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