Milhares de pessoas --35 mil, segundo a polícia, e 70 mil, segundo os
organizadores-- participaram de protestos nesta quarta em Atenas contra
os novas medidas de austeridade que estão sendo planejadas pelo governo
grego e a troika (os credores do país, a Comissão Europeia, o Banco
Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional). Os principais
sindicatos da Grécia também convocaram para esta quarta uma greve geral
de 24h.
Ainda que os protestos tenham começado de forma pacífica, já existem
relatos de enfrentamentos entre policiais e pequenos grupos, com o uso
de bombas de gás lacrimogênio, coquetéis molotov e pedras. Segundo a
polícia, 105 pessoas foram presas. Três manifestantes foram levados a
hospitais e oito policiais ficaram feridos.
Segundo os organizadores dos protestos e da greve, a paralisação teve
adesão maciça da população. A GSEE, que reúne trabalhadores do setor
privado, informou que 100% dos funcionários que trabalham em estaleiros,
transporte marítimo e refinaria estão paralisados, assim como 90% dos
portuários e da construção civil, 85% da indústria siderúrgica e 80% do
setor de hotelaria, comércio, bancos e empresas públicas.
Pela primeira vez, pequenos comerciantes também aderiram à greve geral.
Eles fecharam as portas na parte da tarde para protestar contra os
cortes salariais e o aumento de impostos que reduziram drasticamente o
consumo no país.
Segundo Yorgos Kavvazas, presidente da Confederação Nacional de Pequenos
Empresários (GSEVE), nos últimos dois anos 160 mil empresas declararam
falência e o volume de negócios diminuiu drasticamente. Para Kavvazas,
com novas medidas de austeridade, outras 120 mil empresas fechariam as
portas, provocando a perda de 200 mil postos de trabalho.
Segundo números oficiais, 25% dos gregos atualmente estão desempregados, uma das maiores cifras da Europa.
CRISE
A economia grega depende da ajuda internacional dos demais países
europeus e do FMI (Fundo Monetário Internacional) desde meados de 2010.
Sem esses empréstimos, a Grécia fatalmente seria forçada a suspender o
pagamento de suas dívidas, levando a nação a sair da União Europeia.
Os credores cobram mais reformas fiscais para continuar financiando o
país. O próximo repasse de recursos --de € 31 bilhões (quase US$ 40
bilhões)-- está condicionado ao compromisso do governo em novos cortes
de gastos.
Por enquanto, a troika e a Grécia concordaram sobre onde acontecerá
cortes de € 9,5 bilhões (R$ 25 bilhões) de um total de € 11,5 bilhões
(R$ 30 bilhões) necessários. Dentre as reduções, € 6,5 bilhões (R$ 17
bilhões) virão de cortes de salários, aposentadorias e benefícios
sociais. Outros € 1,1 bilhões (R$ 3 bilhões) serão economizados a partir
do aumento da idade mínima de aposentadoria (que subiu de 65 para 67
anos). Mais € 1,9 bi (R$ 5 bilhões) virão na forma de dinheiro poupado
em medidas de modernização que foram aprovadas pela troika. Os últimos €
2 bi (R$ 5 bilhões) deveriam vir de economias no setor de saúde, defesa
e dos governos locais.
Nesta quarta, o ministro da Finanças grego, Yannis Stournaras, e o
primeiro-ministro, Antonis Samara, elaboraram uma proposta de cortes que
deve ser apresentada na quinta à coalizão do governo. Entre os
funcionários públicos que terão seus salários mais afetados pelas novas
medidas estão os professores universitários, os médicos, os juízes e as
forças de segurança.
"Nos últimos dois anos, nosso salário diminuiu 40% e a porcentagem do
PIB destinada à saúde foi de 1,6% para 0,6%" lamentou o médico Kostas
Livados.
"Temos que continuar lutando contra a plutocracia, eles estão resgatando
os bancos e não fazem nada por nós", disse um jovem pesquisador da
Universidade Politécnica, Kostas Papadópulos.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1159604-mais-de-cem-pessoas-sao-presas-em-manifestacao-em-atenas.shtml
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