Os juízes em questão viajaram para Miami inteiramente bancados pelo grupo monopolista, que agora utiliza dos seus préstimos.
Prorrogaram a aplicação da Ley de Medios, marcada para 7 de dezembro, após ganharem viagem a Miami
Nesta
quinta-feira (6) de muita chuva e contaminação por uma nuvem tóxica no
céu de Buenos Aires, às vésperas da entrada em vigor da Lei de Meios
Audiovisuais na Argentina, os juízes Francisco de las Carreras e María
Susana Najurieta, da Câmara Civil e Comercial Federal, decidiram
prorrogar a medida cautelar que beneficia o Grupo Clarín, mantendo
suspenso o artigo 161 da lei “até que se dite uma sentença definitiva”.
O
artigo em questão determina que as empresas com número de licenças
superior ao permitido pela nova regulação vendam o excedente para se
adequar. A lei define que uma empresa pode ter no máximo 35% do mercado a
nível nacional e 24 licenças (atualmente, o grupo monopolista detém
240), sendo dono de 41% do mercado de rádio, 38% da TV aberta e 59% da
TV a cabo.
Entidades populares, lideranças sindicais,
parlamentares e movimentos pela democratização da comunicação já vinham
alertando para o fato de os juízes em questão terem viajado para Miami
inteiramente bancados pelo grupo monopolista, que agora utiliza dos seus
préstimos.
O vice-governador de Buenos Aires, Gabriel Mariotto,
afirmou que “cada vez fica mais evidente a convivência entre o poder
concentrado da Argentina e suas peças na Justiça, que buscam impedir o
povo de se expressar”.
Conforme destacou o ministro da Justiça,
Julio Alak, “será um adiamento transitório, pois a lei é inexorável e
garantirá a efetiva democratização e desmonopolização das comunicações
do país”. “Redobramos o nosso compromisso com o avanço da democracia”,
frisou.
Apresentadores da TV Pública Argentina lembraram que em
governos anteriores várias ações em defesa dos direitos humanos contra
os repressores da ditadura foram igualmente barradas na Corte, até que o
afastamento do juiz responsável possibilitou que fluíssem as denúncias e
começassem a haver as condenações. Mas, neste momento, o ex-juiz
apareceu como defensor dos repressores. A história é conhecida. E se
repete.
Clarín tour
“Tínhamos razão quando dissemos que os
juízes que viajam a Miami financiados pelo Clarín terminam convertidos
em sua equipe jurídica”, declarou o titular da Autoridade Federal de
Serviços Audiovisuais da Argentina (AFSCA), Martín Sabbatella. “Estamos
convencidos da consitucionalidade da Lei. Uma lei que aumenta a
qualidade da democracia é freada por juízes financiados pela corporação
que pede esta cautelar. Isso é uma vergonha”, afirmou.
Segundo
Sabbatella, “a democracia foi colocada em xeque por grupos judiciais,
mas pediremos à Corte que revise este ato. Está claro que a justiça
argentina não está preparada para enfrentar as corporações porque grande
parte dela está colonizada por esses grupos econômicos”.
Censura e auto-censura
O
secretario-geral da Federação Argentina de Trabalhadores de Imprensa
(FATPREN) e vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas
(FIP), Gustavo Graneros, alertou para “a vocação do grupo monopolista
contra a liberdade de expressão que hipocritamente diz defender”.
Exemplo disso, relatou, foi a recente perseguição contra profissionais
de imprensa: “buscaram amedrontar, pressionando com a censura e a
auto-censura, da mesma forma que impediram durante anos o exercício da
própria atividade sindical”.
Contra a perseguição, a Federação
lançou nota denunciando que o “Clarín pretende silenciar as opiniões dos
jornalistas que denunciam o descumprimento da lei, a vocação
desestabilizadora do grupo e sua aspiração a manter os privilégios que
ganhou ao calor da ditadura cívico-militar e dos governos neoliberais,
atentando contra toda comunicação diversa e plural”.
Tuítaço pela democratização
Em solidariedade à luta do povo argentino pela democratização da
comunicação, movimentos sociais e meios comunitários e alternativos
latino-americanos promovem, nesta sexta-feira (7), a partir do meio-dia
até as 15 horas, uma jornada global de apoio à plena aplicação da Lei de
Meios. As etiquetas, ou hastags da campanha são: #7D, #LeydeMedios e
#NoMonopolios.
Os movimentos sociais na Argentina decidiram
intensificar o apoio ao cumprimento da lei e, no domingo (8), chamado de
8D, será realizado um grande ato pela democracia na Praça de Maio com
show de encerramento de Charly García e Fito Paez.
http://www.conversaafiada.com.br/pig/2012/12/08/juizes-financiados-pelo-clarin-sabotam-7d-na-argentina/
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