Cão de guarda de Geraldo Alckmin felicita ditadura militar e
questiona crimes
Nesta semana
[1º/04], na cerimônia de entrega de parte dos arquivos do DOPS-SP
digitalizados, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, apareceu
com o novo secretário particular, o advogado Ricardo Salles, um provocador que
já disse coisas como “felizmente tivemos uma ditadura de direita no Brasil”.
Salles já concorreu duas vezes, a deputado
federal e estadual, pelo PFL e depois pelo DEM, mas não conseguiu se eleger.
Meus colegas do Estadão, Júlia Duailibi e Bruno
Lupion lembraram no jornal: Salles é fundador do radical Instituto Endireita
Brasil, que, na rede social, entre outras pérolas, como criticar o casamento
gay e a Comissão da Verdade, já publicou que Dilma é uma terrorista.
Comentou o analista Glauco Cortez: “Salles
cuidará de toda a agenda do governador do estado mais rico do País.
Aparentemente uma função burocrática, mas o fato é que, com essa nomeação, o
político tucano instala, dentro do Palácio dos Bandeirantes, um movimento que
exala obscurantismo.”
Mas a declaração mais chocando de
Salles embrulha o
estômago de muitas famílias vítimas da Ditadura, como a minha.
Segundo o assessor do governador de SP, “não
vamos ver generais e coronéis acima dos 80 anos presos por crimes de 64, se é
que esses crimes ocorreram.”
Sim, esses crimes ocorreram.
Nem precisamos citar a extensa biografia à
respeito, nem os testemunhos colhidos há décadas, no projeto Tortura Nunca
Mais, da Igreja. Nem depoimentos de gente do partido do governador, como FHC e
José Serra, cassados e exilados pela ditadura, ou de gente da liderança e base
tucana que foi torturada.
Sou testemunha viva. Eu e minhas irmãs.
Vimos nossa casa no Rio de Janeiro ser invadida por militares armados com
metralhadoras em 20 de janeiro de 1971.
Vimos meu pai, minha mãe e irmã Eliana serem
levados.
Minha mãe ficou 13 dias presas no DOI/Codi,
sem que o Exército reconheça ou tenha feito qualquer acusação.
Meu pai entrou no quartel do Exército e não
saiu vivo de lá. Também não sabemos o motivo da prisão, a acusação. Não
entendemos as negativas posteriores de que estivesse preso.
Abaixo, documentos que provam que, sim,
crimes ocorreram.
Em nome da decência, exigimos uma retratação
do secretário e um pedido de desculpa do Governo do Estado.
Que está onde está graças aos que lutaram,
foram torturados ou deram a vida pela redemocratização do País. Brasileiros que
merecem mais respeito.
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