No
Iêmen, usuários da rede social divulgam, pela primeira vez, uma operação
secreta de drones da CIA, acompanhada minuto-a-minuto
Apesar de ser tarde da
noite, as redes sociais no Iêmen estavam em plena atividade. Fazia poucos
minutos que um ataque por controle remoto – os chamados “drones” guiados pela
CIA – tinha atingido um comboio de veículos em uma parte remota do país,
matando três supostos militantes.
O ataque, como todos os ataques do tipo, realizados pelos
EUA nos últimos anos fora de zonas de guerra, deveria ser secreto. Porém, o
advogado Haykal Bafana, que mora na capital, Sana, começou a transmitir pelo
twitter, minuto a minuto, o que se passava. Pouco depois da uma hora da manhã
da quinta-feira, 17 de maio, ele postou o seguinte:
“#Yemen AGORA | Ataque de mísseis a carros em Wadi Hadhramaut.
Próximo à cidade de Shibam. Suspeita de que seja um ataque de drone dos EUA”.
Como ele explicou ao Bureau of Investigative Journalism, parceiro
da Pública, seus parentes vivem em Shibam, uma cidade de 30 mil habitantes.
“Quando o primeiro ataque aconteceu, a cidade – que estava sem luz na hora –
ficou completamente iluminada. Meus parentes ligaram imediatamente para me
contar sobre o ataque”.
No dia anterior, o advogado já havia tuitado que aviões
“drones” estavam sobrevoando a região de maneira suspeita. A província de
Hadhramaut, um ex-sultanato esparsamente povoado, fica bem distante do sul do
Iêmen, considerado problemático pelos americanos e onde ocorre a maioria dos
ataques de aviões dos EUA controlados remotamente.
Um sites em árabe na cidade de al-Mukalla, capital da
província, publicaram que um comboio de supostos rebeldes da Al Qaeda estava se
dirigindo rumo ao norte. Esta notícia também foi bastante retuitada.
Assim que os veículos
se aproximaram de Shibam, à uma da madrugada, pelo menos um carro, um Toyota
Hilax, foi destruído por mísseis. A força aérea do Iêmen não possui equipamento ou know-how para fazer
um ataque de precisão deste tipo durante a noite.
Agências de notícias
depois revelariam que houve um ataque por drones, e que dois dos mortos no
ataque foram Zeid bin Taleb e Mutii Bilalafi, ambos descritos como líderes locais da Al Qaeda.
Como dezenas de ataques dos EUA no Iêmen, este deveria ter sido realizado
secretamente. Porém, o twitter e outras redes sociais estavam acompanhando a
operação ao vivo.
“É incrível como a mesma tecnologia usada pela CIA
para matar pessoas com os drones no Iêmen está ajudando o povo do Iêmen a
tuitar sobre os ataques enquanto eles ocorrem”, diz Noel Sharkey,
professor de robótica na Universidade de Sheffield, no Reino Unido. “Eles podem
nos mandar fotos e nos aproximar do horror que estão vivendo. Assim, a
tecnologia em pequena escala pode até barrar o uso de tecnologia militar em
grande escala”.
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